"Ser Corinthiano é descobrir que todo ano a gente vai sofrer." - Gilberto Gil
24.1.04
2001 – Mercosul - Corinthians 2 x 1 Independiente
Domingo de manhã, jogo no Pacaembu. Melhor coisa para se ver o Corinthians. Foi o primeiro jogo em São Paulo depois da confusão criada pelo Demoninho Carioca, onde ele acusou o Ricardinho de ser traíra e leva-e traz da diretoria.
Naquele jogo, o nome do Ricardinho foi o mais aplaudido pela torcida antes do início do jogo, numa demonstração clara de qual lado a torcida estava. Foi assim até o Ricardinho errar a primeira, segunda, terceira bola. Na quarta jogada errada, um cara perto de mim começou “pede pra sair, Ricardinho”. A cada bola que ele errava ou perdia, a impaciência ia aumentando, até que meia dúzia de gaiatos começou a gritar “ú, Marcelinho, ú, Marcelinho”.
No futebol, a glória e o carinho da torcida são efêmeros.
2001 – Campeonato Paulista – Corinthians 2 x 1 Santos
Já estava morando em São Paulo novamente e o Corinthians começa muito mal o Campeonato Paulista. Só que, numa daquelas típicas campanhas corinthianas, o time começa a ganhar partida atrás de partida, classificando-se para a semifinal, contra o Santos. O primeiro jogo, difícil, terminou empatado em 1 a 1.
Na segunda partida, um jogo emocionante. Santos faz um gol, o Corinthians empata em seguida, os dois times perdem um pênalti cada, tudo isto no primeiro tempo, ainda.
O segundo tempo, tenso, já estava se encaminhando para o final e o empate levaria o Santos à final. Eu já tinha entregue os pontos. Um amigo, são-paulino, disse para mim, na mesma hora “que nada, com este time filho-da-puta, o jogo só acaba quando o juiz apita”. Ele acabou de dizer isto e o Gil faz a jogada pela esquerda e toca para trás. Ricardinho chega chutando e é gol! O gol da classificação, aos 45 do segundo tempo.
Eu precisei de um são-paulino para me lembrar da primeira regra clássica do corinthiano: acreditar até o final.
2000 – Campeonato Brasileiro – Bahia 2 x 1 Corinthians
Morando em Salvador, via poucos jogos do Corinthians pela tevê. Normalmente, quando não são os times da casa, a televisão de lá prefere transmitir jogos de equipes do Rio.
Assim sendo, não poderia deixar a oportunidade de ver o time jogando na cidade. Pois bem, fui para a Fonte Nova ver o Timão. Logo no começo do jogo, Marcelinho apronta mais uma e é expulso, de bobeira.
O Bahia faz um gol e o Corinthians logo empata. Engrossa o jogo, vai pra cima, mesmo com um a menos, estava claro que a vitória seria nossa. Esta sensação dura até o time cansar e, no final do jogo, o Bahia faz o segundo gol. Nem espero para ver o final do jogo. Vou embora, xingando o desgraçado do Marcelinho.
Em 1999, o Corinthians havia sido eliminado pelo Palmeiras nos pênaltis, o que possibilitou ao time dos porcolinos ganhar o torneio e ir para o Japão perder para o Manchester United .
Em 2000, mais uma vez o Palmeiras. Na primeira partida, uma partida que estava fácil (o Corinthians chegou a estar ganhando por 3 a 1) virou um sufoco. 4 a 3 para o Corinthians.
No jogo seguinte, o Palmeiras acabou se superando e virou o jogo, levando para os pênaltis. Ali, mais uma vez, acabamos sendo eliminados pelos porcolinos. Minha ex-mulher, palmeirense, ao ver o desgraçado do Marcelinho perder o pênalti decisivo começou a pular de alegria pela sala.
A sensação de “de novo, para estes caras, não dá” me fez com que eu me trancasse no banheiro e ficasse lá o tempo suficiente para que todos os telefonemas vindos de São Paulo fossem atendidos por ela.
2000 – Campeonato Mundial Interclubes – ahaa, uhuu, o mundo é nosso
A conquista do Campeonato Brasileiro possibilitou ao Corinthians participar do Primeiro Campeonato Mundial Interclubes, realizado pela Fifa. O torneio aconteceu em duas cidades, São Paulo e Rio de Janeiro.
A chave paulista contava com Corinthians, Real Madrid, All Nassr e Raja Casablanca. A carioca tinha Vasco da Gama, Manchester United, Necaxa e um time australiano.
Este torneio aconteceu logo em janeiro, com os jogadores corinthianos praticamente saídos de um longo campeonato brasileiro e dava para ver que muitos deles se arrastavam em campo. Na verdade, somente duas equipes se prepararam para conquistar o título: Vasco e Real Madrid.
Os espanhóis contavam com o título para mostrar ao mundo que eram eles o melhor time do século (o que acabou sendo confirmado pela Fifa, tempos depois,~numa daquelas eleições que fizeram para eleger o qualquer coisa do século passado). O Vasco, bem, o Vasco tem Eurico Miranda e seus planos megalomaníacos de dominação do mundo. O time carioca praticamente abandonou o campeonato brasileiro para se preparar para o torneio da FIFA.
Tanto Real Madrid como Vasco da Gama foram com equipes completas para o Mundial.
Chega o dia do jogo entre Corinthians e Real Madrid. Um dirigente espanhol, na véspera do jogo, afirma que embora o Timão tivesse bons jogadores, nenhum deles tinha qualidade para vestir a camisa do Real. Karembeu disse, em tom de ironia, que nunca havia ouvido falar em Edílson.
Durante o jogo, 1 a 0 para o Madrid. Eis que a bola cai nos pés de Edílson, na frente de Karembeu. Uma bola no meio das pernas do francês falastrão e gol para o Corinthians. Na comemoração, Edílson passa por Karembeu e diz: “Prazer, meu nome é Edílson”. Minutos depois, o Corinhians vira. No segundo tempo, Madrid empata e para completar, Dida pega um pênalti. O jogo termina 2 a 2. O Real Madrid NÃO era melhor que o Corinthians.
Enquanto isto, no Rio de Janeiro, o Vasco de Romário e Edmundo, despachava seus adversários com muita tranqüilidade para chegar à final. Contra o Corinthians.
Maracanã lotado. Desta vez, a fiel torcida não invadiu o Rio, como havia feito em 76, mas estava lá. Pequena, mas barulhenta. Durante todo o jogo, só se escutava “Todo-poderoso Timão, Todo-poderoso Timão, Todo-poderoso Timão.”
O grito da torcida fez com que o time, sem pernas para um jogo aberto, cozinhasse o Vasco até a disputa dos pênaltis. No gol do Corinthians, havia Dida, que tinha como passatempo predileto defender pênaltis. Ganhamos. O mundo era alvinegro.
1999 – Campeonato Brasileiro – Corinthians 3 x 2 São Paulo
Neste campeonato, repetimos a dose. Lideramos toda a primeira fase, sem grandes sustos. Nos playoffs, o Guarani foi eliminado e chegou a vez de enfrentar o São Paulo.
No primeiro jogo, o São Paulo teve dois pênaltis a seu favor. Raí, cobrou as duas vezes. Nas duas oportunidades, Dida defendeu. Assim sendo, só restava ao Corinthians eliminar o São Paulo e ir disputar a final contra o Atlético Mineiro, para conquistar seu terceiro título.
1999 – Campeonato Paulista – Corinthians x Palmeiras
Durante a Libertadores, o Palmeiras havia eliminado o Corinthians nos pênaltis. Logo depois, teve a final do Campeonato Paulista, envolvendo as duas equipes. A eliminação no sul-americano era muito recente e doída, até porque o time corinthiano era melhor.
Na primeira partida da final, o Corinthians ganhou por 3 a 0. Na segunda, eu estava em São Paulo. Era junho, fazia muito frio. Vi o jogo pela televisão, com a “audiência” dividida – metade corinthianos e metade palmeirenses.
Lá pelas tantas, eu fui à cozinha pegar mais cerveja e vi o Edílson fazendo umas embaixadas com a bola. Eu pensei que a partida estivesse parada. Não estava. Quando eu chego na sala, com as cervejas, vejo Davi (corinthiano) e Rogério (palmeirense) gritando “pega ele, bate, pega, pega”. O pau estava comendo entre os jogadores das duas equipes.
Ao contrário do que eu tinha pensado, o jogo não estava parado quando Edílson estava fazendo as embaixadas. Aquilo irritou os jogadores palmeirenses, que partiram para cima e a confusão se iniciou.
O jogo acabou não terminando. O Corinthians sagrou-se campeão, mas a confusão que houve fez com que não houvesse comemoração e, bem, acabou sendo um título sem-graça, onde a falta de esportividade e de respeito entre os que estavam em campo deram o tom.
Graças à parceria com um banco, que já nem existe mais, o Corinthians investiu em diversos jogadores de talento – chegaram Rincón, Vampeta, Ricardinho, Gamarra, Edílson, etc.
O time liderou a tabela pelo maior tempo do campeonato e chegou à fase dos playoffs com vantagem. Na época, eu estava me mudando para Salvador, de forma que vi alguns jogos na Bahia e outros em São Paulo.
Tanto Grêmio como Santos foram eliminados em 3 jogos, mas sem grandes sustos. A final, seria contra o Cruzeiro, que também tinha um time muito forte. A primeira partida, em Belo Horizonte, os mineiros chegaram a abrir dois gols de vantagem, mas o jogo terminou empatado, 2 a 2. O segundo jogo, outro empate, desta vez em São Paulo, 1 a 1.
A terceira partida, com o Corinthians jogando pelo empate, desta vez, não teve jeito – no segundo tempo, o Corinthians fez dois gols e tornou-se campeão. Mais importante do que ganhar o título, foram os personagens que fizeram parte desta conquista.
Dinei, jogador prata da casa, antes de pensar em ser jogador de futebol, era sócio da Gaviões da Fiel. Saiu direto da arquibancada para o gramado. Iniciou no Corinthians e perambulou por diversos outros clubes, até ser pego em um exame anti-doping, por uso de cocaína.
Suspenso, reiniciou a carreira na Inter de Limeira, até voltar ao Corinthians, como reserva. Mesmo nesta condição, todos os cinco gols que o Corinthians fez nos três jogos decisivos contra o Cruzeiro tiveram a participação decisiva dele. Em uma equipe com tantos jogadores contratados a peso de ouro, foi ele, um ex-gavião que, em qualquer outro lugar, seria considerado um ex-jogador de futebol, que fez a diferença. Na comemoração, no gramado,ele estava com a camiseta da Gaviões. Ali, ele era o povo corinthiano.
Também teve Gamarra. Zagueiro excepcional, naquele ano era o melhor do mundo. Na Copa do Mundo, na França, defendeu seu país como um corinthiano de verdade faz, mesmo contundido. Confesso, eu torci pelo Paraguai naquela Copa. No Corinthians, ele era o capitão. Ergueu o troféu com uma bandeira de seu país na mão. O Paraguai é um país menosprezado por muitos, já que ninguém sabe direito o que tem a oferecer. Nada mais corinthiano do que levar uma bandeira deles na hora da comemoração. Ganhamos nós, corinthianos e paraguaios. Somos todos, corinthianos e paraguaios, maloqueiros e sofredores.